[Café com páginas] Um clássico de X-Men e a primeira edição de SHIELD

Fantástica história assinada por Chris Claremont e ilustrada por Brent Anderson que continua, infelizmente, muito atual. Deus Ama, O Homem Mata narra o conflito entre os X-Men e o intolerante William Stryker, um pastor fundamentalista que inicia uma cruzada religiosa com a finalidade de exterminar os mutantes da Terra, afirmando que estes querem corromper a humanidade. Por não serem mencionados na bíblia, Stryker acredita que mutantes não são criaturas de Deus. Qualquer semelhança com pastores homofóbicos que ouvimos falar por aí, não se trata de mera coincidência. Para cumprir seu objetivo Stryker utiliza os poderes do telepata Charles Xavier, o que ocasiona um embate ideológico com os X-Men. A história já começa com uma cena impactante devido à violência gráfica representada, mostrando o assassinato de crianças mutantes em uma escola por um grupo de extermínio denominado Purificadores, seguidores de Stryker. Embora dissonante dos ideais pacifistas de Xavier, Magneto, revoltado com a execução das crianças mutantes, se une aos X-Men. É a primeira vez que o maior inimigo da equipe trabalha ao lado dos heróis. Com a ajuda dos métodos sádicos de Magneto utilizados nos Purificadores capturados pelos X-Men e mantidos prisioneiros no Instituto Xavier, eles conseguem respostas acerca de Stryker e de sua operação de caça e extermínio de mutantes. Enquanto isso, o professor Xavier (sequestrado após o debate televisionado que teve com Stryker) é submetido a uma lavagem cerebral, tendo Ciclope e Tempestade vinculados psiquicamente a ele durante o processo, de modo que o pastor possa utilizar os poderes de Xavier para seu próprio benefício como instrumento de erradicação dos mutantes. Deus Ama, O Homem Mata foi lançada em formato de graphic novel originalmente em 1982, inspirada nos álbuns europeus, com um material de qualidade superior ao das HQs americanas tradicionais. Diferentemente dos inúmeros arcos narrativos que permeavam o universo de X-Men, esta se tratava de uma história fechada, sem sequências ou precedentes (embora a luta contra o preconceito seja o principal mote desta história e perdure até os títulos atuais) e apresentava uma breve introdução dos personagens no começo da trama para situar os leitores. Ainda que o texto de Claremont soe redundante em diversas passagens (algo característico dele), esta é seguramente uma das melhores histórias dos X-Men e a que mais deixa clara a intolerância de que os mutantes são vítimas, que é a espinha dorsal da criação de Stan Lee desde sua origem nos anos 1960. Essencialmente a narrativa versa a respeito do fundamentalismo religioso, o poder de influência dos meios de comunicação, a opressão e preconceito contra as minorias. Vale lembrar que a premissa desta história serviu de base para o roteiro de um dos melhores filmes estrelados pelos mutantes: X-Men 2 de 2003.
SHIELD #1

Baseado na série de televisão produzida pela ABC, o título SHIELD se concentra nas aventuras vividas pelos agentes da divisão liderada por Phil Coulson, que é mostrado na revista como um fanboy de super-heróis da Marvel desde a infância, não muito diferente de sua origem nos filmes, vale ressaltar. Já na SHIELD, é incumbido da tarefa de recrutar um time de elite, composto por agentes brilhantes, incluindo humanos e super-humanos. Neste primeiro número, a equipe se vê as voltas com um exército de demônios. Com o mundo sob ataque, os heróis da Marvel em peso se unem para tentar evitar a destruição e cabe a Coulson e seus agentes desvendarem a procedência disso (que acaba por envolver o guardião da ponte Bifrost, Heimdall, e uma estranha rocha). Os méritos da revista são o fato de a equipe de Coulson trabalhar diretamente com os Vingadores e os roteiristas poderem citar X-Men, já que por questão de direitos autorais (a rixa entre Fox e Marvel Studios), os mutantes não podem sequer ser mencionados nas produções cinematográficas e televisivas da Marvel. Do time original da série de TV, além de Coulson, apenas May, Fitz e Simmons aparecem no título em quadrinhos. Fitz tem até algum protagonismo na história, especialmente nas tiras finais que são bem bacanas - envolvendo o personagem e seu macaquinho de estimação. Sim, ele finalmente realizou seu sonho. Mas a revista em si é bastante genérica e deixa a desejar em termos de narrativa, especialmente no tocante à introdução dos personagens. A trama é rápida, sem muita relevância, pecando no desenvolvimento do plot. A arte também vacila, com um traço pouco autoral e até rudimentar em certos pontos. Espero que, assim como a série que começou procedural e burocrática, a revista também evolua e venha a apresentar tramas mais interessantes. Mais do que capitalizar em cima de uma série que está se tornando cada vez melhor, que represente um santo remédio para a abstinência dos espectadores do seriado durante o hiatus.
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