Feliz Dia dos Mortos
Quarta-feira, 2 de novembro, Dia de Finados, Dia dos Fiéis Defuntos, feriado para os trabalhadores descansarem e refletirem, ou não, sobre a perda dos entes queridos, sobre a jornada daqueles que se foram, dia de visitar os sepulcros daqueles que partiram para outro plano espiritual.
Coincidentemente, desde ontem a ideia de uma coletânea de contos sobre a relação de crianças com a morte vem me atormentando a ponto de eu pegar rascunhos perdidos, lê-los, revisá-los e até mesmo escrever uma introdução para este projeto no meio do trabalho.
Talvez eu poste aqui no blog. E, depois de resgatar os contos, vá publicando aos poucos neste aconchegante espaço.
Essa primorosa produção da ABC foi ao ar em 2007 e acabou prematuramente em 2009, fechando com duas temporadas e totalizando apenas 22 episódios. A série era centrada no confeiteiro (fazedor de tortas) Ned que tinha a incomum habilidade de trazer os mortos de volta à vida com apenas um toque. Daí o título brasileiro do seriado: Um Toque de Vida. Porém, esse dom não vinha sem um preço. Um segundo toque na pessoa que ele ressuscitou, era fatal; ela partia dessa para uma melhor definitivamente. Pior: ao ressuscitar um morto, outra pessoa nas redondezas morria instantaneamente, como se para garantir um equilíbrio na complexa hierarquia da morte/vida. Inventiva, a produção era um misto de conto de fadas colorido com trama policial, uma vez que sua habilidade também era utilizada para solucionar homicídios. No entanto, o fator mais importante e sensível da série era realmente o amor entre Ned e sua amiga de infância, Chuck, a quem ele trouxe de volta à vida com um toque e, portanto, tinha de evitar tocá-la novamente a qualquer custo, o que garantiu uma das cenas de beijo mais lindas e divertidas da história da televisão.
Uma das coisas mais interessantes que a Globo produziu em muito tempo e uma das últimas também. Amorteamo trazia um elenco estelar e inspirado para narrar a história de diversos triângulos amorosos que tinham como um elo em comum a morte. A trama criada por Guel Arraes era ambientada em Recife, no início do século XX, contava com diversas referências obscuras - transitando entre Tim Burton e Neil Gaiman, passeando pelo cinema mudo e flertando abertamente com o expressionismo - e foi ao ar entre 8 de maio e 5 de junho de 2015, com cinco episódios.
As Virgens Suicidas
Se me perguntarem qual é a história de amor mais bela que já li, sem pestanejar, responderei Harold & Maude. Uma romance atípico, capaz de fazer muitos torcerem o nariz ao descobrirem de que se trata. Coloquemos da seguinte forma: Harold é um excêntrico e soturno rapaz de 17 anos, aficionado pela morte. Maude, uma adorável velhinha de quase 80 anos, apaixonada pela vida. E estes sãos os protagonistas dessa tão terna quanto hilariante história de amor. O Harold é um dos personagens que compõem a minha tão vasta galeria de crushes fictícios. Ele passa a maior parte de seu tempo planejando complexos suicídios encenados para chamar a atenção de sua mãe. Em Maude, ele redescobre a vontade de viver, de aprender e evoluir. Como diz a própria orelha do livro: Todos nós somos Harolds que tentam ser Maudes.
Morte dos Perpétuos
Deus Ri
A lista de mortos da gente vai aumentando com o tempo.
Quando eu era pequena não tinha noção desse morre, nasce…
Mesmo porque ninguém meu morria.
Tudo tinha um quê tão definido de eternidade,
tudo durava tanto e a vida não faltava.
A vida era pontual como os quintais e as goiabeiras ali.
Todo dia ali, existindo.
Eu não tinha a mínima noção desse vai e vem,
desse revezamento, desse rodízio da humanidade:
quem vai pro saque, quem sai do jogo, quem é escalado,
quem vai pra reserva.
Nada disso havia na minha menina. Agora não.
Agora morreu Tião Sá, o filho do Joelson, a mãe da Márgara,
Chiquinho Brandão, minha mãe, Bukowski, Cazuza, Grande Otelo,
Mario Quintana, Senna, Fellini, Sérgio Sampaio e tantas
mil gentes engrossando a fileira da bola fora.
O itinerário das vias de cada um vai estourando como bolas
de aniversário na minha cara e vai ficando longe o tempo
em que os meus não morriam, nem quando eu queria.
Deus, com certeza, ri. Não de sarcasmo,
mas pelo costume de ver passar as boiadas e
de olhar para elas despencando na curva final das planícies…
Pra onde? Só Deus sabe.
E é por isso que Ele ri.
*Salut*
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