[Filme aos domingos] Rashomon
O corpo de um homem encontrado em uma floresta dá origem a quatro diferentes
versões de uma mesma história. Ambientado no Japão do século XI, temos acesso, então,
aos fatos narrados pelo bandido que estuprou uma mulher na frente de seu
marido, pela mulher violada, pelo marido assassinado e por um homem que
assistiu a cena e testemunhou no julgamento do caso. A montagem se mostra o
recurso essencial do filme, muito bem utilizada ao contemplar múltiplos pontos de vista. A forma como o cineasta Akira Kurosawa brinca
com a edição dos fatos, introduzindo um recurso inovador na época, o flashback
– e que viria a se tornar tão tradicional que atualmente é enfadonho e muitas
vezes usado de maneira equivocada – surpreende o espectador. As quebras
cronológicas de uma narrativa não linear, associadas à trilha sonora, tornam o
longa ágil e envolvente. O plot, baseado no conto Yabu no Naka de Ryūnosuke Akutagawa, já é instigante por si só, mas a maneira
utilizada por Kurosawa, em parceria com o diretor de fotografia Kazuo
Miyagawa, para contar a história, fazendo excelente uso de recursos não
convencionais para a época (o filme é de 1950), tornam o longa ainda mais
delicioso de se acompanhar. Essencialmente Rashomon versa a respeito dos valores
corrompidos da humanidade. A mentira, a desonestidade, o egoísmo, a hipocrisia
e, por fim, o alcance da redenção em uma demonstração genuína de altruísmo. De
um primor incomparável e ineditismo absoluto, Rashomon é uma
obra-prima fundamental na coleção de qualquer cinéfilo que se preze.
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